Saúde da Mulher – Redefinir a Menopausa

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Hoje falamos sobre a também chamada de segunda primavera: a menopausa.

Em consulta, esta fase é por vezes descrita de forma algo receosa pelas próprias mulheres como a “mudança”. Acho e talvez são expressões frequentemente utilizadas na descrição da sintomatologia, o que denota a insegurança por vezes sentida.

Curiosamente, no clássico da Medicina Chinesa, o Livro do Imperador Amarelo, a menopausa é descrita de uma forma muito interessante e diferente da que estamos habituados a ouvir falar:

“Aos sete vezes sete (anos de idade), o orvalho celestial (menstruação) da mulher diminui e a sua capacidade reprodutiva também. O Qi (energia) que reinava no palácio do bebé (útero) ascende ao seu coração e a sabedoria (da mulher) é aprofundada.”

No fundo, esta etapa da mulher é vista como uma conquista (positiva) que se traduz no alcançar de um estatuto superior de maturidade emocional, que lhe confere ainda maior capacidade de guiar quem a rodeia. Se pensarmos que esta idade coincide para muitas mulheres com um acréscimo de responsabilidades profissionais, de novos objectivos pessoais e, por vezes em simultâneo, com a necessidade de cuidados redobrados com pais idosos ou crianças a seu cargo, tudo isto faz imenso sentido. 

Curiosidade: Importa referir que se estima que esta obra tenha sido compilada algures entre os anos 475-225 AC (há mais de 2000 anos!)

A conotação muitas vezes negativa atribuída a esta fase, já por si delicada, deveria dar lugar a esta forma bonita de descrever este momento.

O que é a menopausa?

Trata-se de uma transição fisiológica normal que ocorre sensivelmente entre os 49 e os 56 anos, e é marcada por um abrandamento da função ovárica e redução gradual dos ciclos menstruais.  

Este período de reorganização hormonal pode dar aso a alguns dos sintomas abaixo (1):

  • Afrontamentos
  • Suores nocturnos
  • Insónia
  • Diminuição da líbido
  • Secura vaginal
  • Dores de cabeça
  • Alterações de humor
  • Palpitações
  • Rigidez articular ou muscular
  • Infecções urinárias
  • Fragilidade óssea

O tratamento tradicional

Caso não existam contra-indicações (a verificar com o seu médico, ex: historial de cancro da mamã ou endométrio, antecedentes de enfarte e AVC ou hipertensão arterial), o tratamento médico da menopausa pode passar pela terapia hormonal de substituição (apenas estrogénio ou a sua combinação com progestrona).

Esta é a abordagens mais utilizada, apesar dos possíveis efeitos secundários tais como a náusea, distensão mamária, retenção de líquidos, espasmos nos membros inferiores ou enxaquecas. Pode surgir eventualmente aumento de flatulência e apetite, estados de depressão ou ansiedade, sendo estes compensados com a inclusão de antidepressivos e ansiolíticos.(2)

Alguns dos potenciais efeitos secundários são desmistificados por estudos recentes (ex: hipertensão, doença coronária, diabetes mellitus, enxaquecas, cancro da mama e endométrio), no entanto o uso prolongado parece aumentar o risco de cancro da mama entre 10-30%, não como causador, mas por favorecer o seu crescimento. (3)

Para além da medicação, em qualquer das abordagens, poderão ser utilizados outros auxiliares ao tratamento, algo que discutiremos noutro artigo – consulte o final deste artigo.

O que torna a abordagem da medicina chinesa diferente?

A transição da menopausa é um processo muito individual, por vezes longo e com diferentes fases, pelo que um tratamento personalizado, a cada momento, como o que é feito através da medicina chinesa, pode representar a peça que falta no seu puzzle.

Por preferirmos uma linguagem científica, normalmente não abordamos os conceitos base da medicina chinesa, tais como o Qi, Yin, Yang ou Cinco Elementos, mas hoje, para facilidade de compreensão por parte do leitor, hoje, abrimos uma excepção.

O desequilíbrio mais comum na menopausa é o que designamos de deficiência de Yin. No processo de envelhecimento, o Yin, que representa as características da água (líquida, fria, tranquilidade, feminina), tende a esgotar-se e a deixar de conter o seu oposto, o Yang, que representa o aspecto fogo (sólido, quente, agitado, masculino) no corpo. Simplificando, quando os líquidos no seu corpo se esgotam, deixam de controlar o aspecto “fogo” (yang) que há em si. O que acontece? Como se de um incêndio se tratasse, o corpo manifesta ondas de calor, suores (particularmente nocturnos) e/ou secura nas mucosas devido ao calor extra. Outros sintomas de deficiência de Yin são sede, irritabilidade, nervosismo, insónia, transpiração nas mãos, pés e/ou no peito. E sim, vontade de deixar os pés de fora dos lençóis durante a noite.

Por outro lado, muitas mulheres podem sentir o “oposto”, uma deficiência do Yang. Recorda-se que Yang representa “fogo”? Neste quadro, alguns dos sintomas podem incluir fadiga, depressão, diminuição da libido, aumento de peso, retenção de líquidos e/ou incontinência. É possível no entanto que exista ainda uma combinação de ambos os padrões. Este será o ponto de partida para optar qual ou quais as valências da medicina chinesa a utilizar.

No que a tratamento diz respeito, a Acupuntura é utilizada na maioria dos casos com bons resultados, no entanto existe ainda a possibilidade de prescrição de fitoterapia (remédios de plantas) e promoção de ajustes na alimentação. A estas podemos juntar ainda a recomendação de exercícios e massagem.

Conclusão 

Todos estes sintomas menos agradáveis associados à menopausa podem ser tratados por via farmacológica. De igual modo, estes podem ser tratados através da medicina chinesa, com menos (ou sem) efeitos secundários, através dos métodos acima mencionados.

É gratificante podermos contribuir diariamente para o bem-estar de mulheres que atravessem esta  transição através da medicina chinesa. Cremos que, uma vez controlados os sintomas da menopausa, estas podem desfrutar verdadeiramente desta “segunda primavera”

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Para saber mais sobre a menopausa, não perca os nossos outros artigos relacionados com o tema.

Fontes: 

(1) https://medlineplus.gov/menopause.html

(2) (3) Menopause hormone therapy: latest developments and clinical practice, 2019, Tomas Fait, MD, PhD

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6317580/#bx1-dic-8-212551